Com as Crianças de Moçambique
Texto e Fotografia de Maria Duarte
África, continente longínquo, misterioso, com florestas impenetráveis e savanas a perder de vista, que alimentavam o imaginário da minha infância. Por isso, inconscientemente, senti a necessidade de projectar a minha solidariedade para lá, apadrinhando uma criança moçambicana, através de uma associação de apadrinhamento à distância.
Durante alguns anos a Bia e eu trocámos cartas, desenhos e fotografias. E ela, na sua caligrafia incerta, terminava sempre: “Madrinha, quando me vem visitar para eu a conhecer?”
Em Maio de 2013, a ocasião surgiu! Viajei integrada num grupo de padrinhos que iam conhecer os seus afilhados e o trabalho que esta associação tem desenvolvido junto de algumas comunidades do norte de Moçambique, sobretudo ao nível da educação.
Por ser uma viagem não turística em que iríamos visitar comunidades isoladas, algumas pouco habituadas à presença de estranhos, pediram-nos para sermos discretos a fotografar, razão porque levei comigo apenas uma câmara compacta avançada Canon Powershot G11. Estes instantâneos foram feitos no decorrer das actividades em que participei ou assisti. Impensável escolher o horário, esperar pela luz ideal e pela inspiração, ciente de que poderia não ter outra oportunidade de captar o momento. Foi um repto!
Durante duas intensas semanas visitámos comunidades nas zonas de Nampula, Ilha de Moçambique e Pemba, onde a equipa distribuiu lanches e material escolar às crianças, e de facto, só mesmo no terreno conseguimos perceber as enormes dificuldades e carências de bens essenciais que as populações sofrem no seu dia-a-dia. Um sentimento muito diferente daquele que experimentamos sentados no sofá a ver as mesmas imagens na televisão de copo e bolachinhas na mão!
Fotografia não é só técnica, é também paixão e emoção e o que mais me marcou de tudo o que vivenciei foram as crianças, tantas que eram! Os seus rostos expressivos, alegres, tristes também, os seus gestos, as suas reacções e o seu meio envolvente.
Muitas não têm nada, mas nem por isso deixam de brincar, com paus, com pedras, com rodas de bicicletas e os seus pés e mãos grandes são por vezes desproporcionados em relação ao resto do corpo. A escola representa para alguns miúdos um trampolim para o futuro, mas muitos outros não a valorizam e são incentivados pelos próprios pais a ir para as machambas (hortas) ou tomar conta dos irmãos mais novos. Surpreendeu-me a expressão de maturidade e o ar orgulhoso que alguns exibiam frente à máquina fotográfica, quase indiferentes à minha presença. Não são nenhuns coitadinhos! Crianças como estas são um exemplo de sobrevivência num país com elevada taxa de mortalidade infantil e foram a fonte de inspiração que deu origem às imagens, de cores fortes e sem dramatismo, aqui apresentadas, a minha forma de sentir África.
Mais sobre este projecto
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AutoraMaria Duarte
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BioNatural de Lisboa e residente em Cascais. Licenciada em tradução, pelo ISLA, tendo no entanto feito o seu percurso profissional na indústria farmacêutica.
A fotografia é paixão antiga herdada de seu pai que a entusiasmou a “consumir” revistas e livros da especialidade, suporte da sua formação inicial. Em 2010, frequentou o workshop de técnica fotográfica do Instituto Português de Fotografia e foi convidada para documentar fotograficamente as exposições organizadas pela galeria do Auto Club Médico Português (ACMP), onde também teve oportunidade de expor alguns dos seus trabalhos. Entre 2011 e 2013, frequentou workshops fotográficos e de edição de imagem com a Fotonature, que muito contribuíram para a sua evolução. Mais recentemente, participou em exposições coletivas em Lisboa, Braga e Monção. -
Experiências Primeira LuzSintra-Cascais (Mar.2012)
Lisboa (Nov.2012)
Lisboa (Dez.2012)
Serra de Aire (Mar.2013)
Lisboa (Out.2013)
Que fotos tão inspiradores e retratos fantásticas da simplicidade de ser criança !
Parabéns !
Muitos Parabéns Maria.
Lindo, mesmo este trabalho.
Inspirador.
Muito grata.
Abraço
Parabéns pelo excelente trabalho e pela enorme sensibilidade e carinho com que foi realizado
muito bom retendo a ternura de como tudo é relatado e captado …
Sem palavras, pelo que li e vi, deixa-me muito emocionado. Parabéns pelo excelente trabalho.
Parabéns Maria! Excelente trabalho 🙂
Lindas as fotos dos meninos da minha terra! Parabéns pelo texto, pela sensibilidade, pela ternura, pela coragem e deixar o seu sofá e ir ao mato. Parabéns pela coragem de financiar a educação de uma rapariga moçambicana.Fico lhe grata. Gostei muito