Picos da Europa
Texto e Fotografia de Francisco Machado
Estive nos Picos da Europa, pela primeira vez, em 2011 e já nessa altura a fotografia assumia alguma importância na minha vida. Virgem nestas andanças, a inexperiência a fazer-se sentir: foi uma visita (des)organizada, onde, no final, a sensação latente no grupo foi de que muito mais poderia ter sido feito e aproveitado. No regresso, fiz uma promessa a mim mesmo: hei-de voltar!
Nessa altura, idealizei um mapa mental de tudo o que tinha de ser feito previamente para voltar para uma visita a sério, uma visita que me permitisse fotografar com outras condições, também mais maduro e melhor preparado.
Quatro anos passados, sabendo da viagem organizada pela Fotonature (agora Primeira Luz), senti que estavam reunidas as condições necessárias. Era a oportunidade que esperava. Não posso deixar de dizer que tive dificuldade em adormecer nos dias que antecederam a viagem. A ansiedade e aquele formigueiro no estômago, que só quem ama a fotografia pode perceber, tomaram conta de mim.
Com a partida programada para o dia 10 de junho, a Fotonature (agora Primeira Luz) não deixou nada ao acaso e, como tal, pontualmente a nossa viagem se iniciou. Um grupo com várias proveniências de Norte a Sul de Portugal foi-se juntando. A maioria do grupo iniciou a epopeia em Lisboa, com uma primeira paragem na zona de Leiria para juntar ao grupo o Pedro Crispim e o Augusto Fernandes. De seguida, V. N. Famalicão, onde entrei, sendo que em Chaves nos esperava o último elemento, Luís Artur, que nos presenteou com um magnífico almoço. A viagem correu lindamente, graças à mestria do condutor Pedro Crispim, responsável pela viatura em que me desloquei, na companhia do Augusto e Luís. O tempo estava agradável, poucas nuvens até nos aproximarmos de León, altura em que começaram a surgir as primeiras nuvens negras no céu. Não tardou muito e estávamos debaixo de uma forte chuvada, que nos acompanhou até ao nosso destino em Soto de Cangas.
Chegados aos Picos era hora de aproveitar ao máximo o tempo. A primeira sessão – pôr-do-sol nos Lagos de Covadonga -, tendo em conta o denso nevoeiro que se adivinhava nessa zona, foi substituída por uma visita às margens do rio Casaño, perto de Poo de Cabrales. Felizmente que esta foi a primeira e última alteração de planos. Hora de jantar, tapas acompanhadas com cerveja e sidra e entusiásticas conversas sobre o dia. Já tarde fomos descansar, numa curta noite de sono, não mais do que cinco horas de cama.
O espírito entusiasta estava presente, mesmo às 5h45h da manhã, quando nos juntamos todos prontos para seguir viagem rumo aos Lagos de Covadonga Enol e La Ercina. A totalidade do trajeto foi percorrido de noite sob um forte manto de nevoeiro, que como por milagre se dissipou a poucos metros de distância do Lago Enol. A paisagem era absolutamente deslumbrante, alguma neblina que tão rapidamente aparecia como desaparecia, dava-lhe um aspeto enigmático, quase místico. De seguida, esperava-nos o Trilho do Rio Cares. Mas antes, um almoço “light”, bocadillos (sandes) de meio metro. O caminho do Rio Cares é algo único, repleto de cascatas, túneis, árvores, enfim, “quadros” de cortar a respiração. Depois de uma caminhada com paragens para fotografar toda a dimensão do desfiladeiro, saímos em direção a Riaño. Umas cervejas e petiscos e depois voltámos à fotografia. Desta vez, a extensa barragem, rodeada de montanhas, mostrou-se uma paisagem diferente, no entanto também ela muito bonita. Jantamos tarde e fizemo-nos à estrada. Chegámos ao hotel às duas.
Na segunda viagem pelo rio Cares tivemos outro destino em mente, Poncebo, na outra ponta do caminho, onde foi possível arranjar um enquadramento excelente das montanhas. Tivemos que voltar, mas ainda conseguimos fazer uma pequena pausa para ver o fim-da-tarde no rio Cares. Jantamos em Covadogna e seguimos para o hotel.
Dormimos quatro horas antes de partirmos, mais uma vez, para um dos principais ex-líbris dos Picos da Europa, Lago Enol e Ercina, desta vez antes mesmo do “desayuno”. Voltamos ao hotel para tomar o pequeno-almoço, fazer malas e seguir para Potes, onde tiramos umas fotografias de rua e almoçamos. De tarde fomos a Fuente Dé, onde apanhamos um elevador com vistas magnificas até ao hotel. No pico da montanha, onde fica hotel, as fotografias tiradas ao pôr-do-sol ficaram deslumbrantes. Nessa noite ainda houve uns resistentes que se aventuraram a fazer uma sessão fotográfica noturna, depois cama.
Com o nascer do sol, poucos passos à frente do hotel tirámos umas fotografias virados para aquela que para mim foi uma das paisagens mais extraordinárias de toda a viagem, e fomos presenteados com um nascer do sol absolutamente deslumbrante. Rapidamente tomamos o pequeno-almoço retornamos ao local onde na véspera tínhamos deixado os carros estacionados. Foi o início do regresso a Portugal.
Despedi-me dos Picos da Europa novamente com a promessa de voltar, desta vez com um sentimento diferente ao de 2011, não pelo sentimento de desaproveitamento mas sim com uma vontade expressa de me encontrar novamente com esta paisagem imponente.
Não posso terminar este texto, sem antes agradecer aqueles que mais contribuíram para que este passeio se tornasse realidade.
Obrigado Carminho Maia, pela paciência. São horas sem fim à espera e muitas mensagens de incentivo. Sem o teu apoio e disponibilidade seria tudo muito mais difícil. Para as minhas quatro filhotas: Francisca, Ana, Matilde e Luísa um grande beijinho. E para todos aqueles que comigo participaram nesta aventura um muito obrigado, pelo companheirismo e disponibilidade para partilhar conhecimento. Um agradecimento muito especial para o Luís Afonso, pela capacidade de organização e total disponibilidade para ensinar e partilhar conhecimento.
Adorei!
Mais sobre este projecto
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AutorFrancisco Machado
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BioO gosto pela fotografia surgiu em pequeno, quando os meus pais me ofereceram a primeira “máquina” fotográfica. Não me recordo da marca, apenas me lembro que era uma compacta de filme. Só mais tarde, em 2000, com o nascimento da minha primeira filha, adquiri a primeira dSLR analógica.
Após alguma evolução, como autodidata, foi tempo de em 2005 colocar as mãos na minha primeira câmara digital. Com a revolução da era digital, tudo ficou mais fácil e, em 2011, adquiri a minha primeira dSLR digital.
Decidi aprofundar os meus conhecimentos e participar num curso de iniciação à fotografia promovido pela Academia Olhares. A essa experiência seguiu-se a participação em vários passeios e workshops organizados pela Primeira Luz. Não tendo formação académica em fotografia, a minha aprendizagem passa, praticamente, por um estudo individual. Dedico algum do meu tempo livre a ler revistas, livros ou a fazer pesquisas na internet.
Nos últimos anos comecei a dedicar muito mais tempo à fotografia de paisagem. É o estilo com o qual mais me identifico e de que mais gosto. É também uma forma de estar em contacto permanente com a natureza. -
Experiências Primeira LuzPorto (Jun.2011)
Serra de Aire (Mar.2013)
Serra da Estrela (Nov.2013)
Serra da Estrela (Fev.2014)
Sintra-Cascais (Out.2014)
Serra de Aire (Mar.2015)
Picos da Europa (Jun.2015)
Já deixei um comentário antes, mas voltei a ficar deslumbrada com o texto e com as fotos. Muitos parabéns!
Claro que os Picos da Europa também ajudam…, mas só um bocadinho!
Francisco, estas fotos fizeram-me voltar aos Picos da Europa e a tua a sua beleza. Registar a beleza deste local com todo o seu mistério, variabilidade e imprevisibilidade em fotos tão fantásticas não estão ao alcance de qualquer um ! Parabéns por este trabalho !
um abraço !
Adorei e fiquei com uma vontade doida de ir aos Picos da Europa! Parabéns
Francisco, depois de ver estas tuas fotos fiquei mesmo a “salivar” pelos Picos da Europa.
Parabéns por teres feito registos fotográfico de enorme qualidade.
Um abraço.
Excelente trabalho fotográfico. As imagens são de grande beleza. Parabéns por me dar a conhecer fotografias maravilhosas. Abraço
Parabéns, Francisco! Fotografias de grande qualidade… e obrigado pela companhia! Grande abraço.
Belas fotos Francisco Machado! Custa sempre (um bocadinho!)ter de madrugar, andar à chuva, ao frio , ao vento, mas quando olhamos para os resultados, sentimos que valeu a pena, e por vezes é quando conseguimos as melhores fotos. Muitos parabéns! Fiquei com vontade de conhecer os Picos da Europa.
Parabéns Francisco Machado! Magnífico trabalho!
Francisco obrigado pelas palavras, obrigado pela companhia. Foram realmente uns momentos extraordinários feitos junto de pessoas extraordinárias num local extraordinário. As tuas extraordinárias fotos o demonstram. Grande abraço. Uma palavra também ao meu mestre e mentor que organiza e lidera como ninguém, obrigado.
Já te tinha dito e escrevo-o aqui: acho este teu projecto simplesmente espectacular. Grandes fotografias que funcionam ainda melhor em grupo. A prova de que as expectativas que levamos numa viagem são importantes, mas o mais importante é gozar a natureza no terreno e fazer o melhor daquilo que ela nos oferece dia-a-dia. O tempo esteve “mau” para alguns… mas para nós, esteve magnifico. Parabéns por ter conseguido este grande vitória. Estou certo que depois desta viagem a tua fotografia nunca mais será a mesma. Nem tu, como fotógrafo. Como eu costumo dizer, as experiências fotográficas que valem a pena são para fazer diferença no teu percurso como fotógrafo. Espero que esta tenho feito! Abraço