Uma Forma de Fluir
Texto e fotografia de Susana Pereira
No âmbito de uma formação com Susana Paiva desenvolvido no Palácio Pancas Palha com a cooperação da Companhia de Dança Olga Roriz, desenvolvi um projecto fotográfico em torno do conceito de cumplicidade e a forma como esta poderia ser expressa, vivida e sentida através da dança. O que apresento aqui é o trabalho desenvolvido neste contexto com as bailarinas Ana Costa e Mafalda Bastos, Mariana Barbosa e Miguel Nogueira, todos eles da F.O.R. (Formação Olga Roriz).
A dança dispõe de um território de disponibilidade para ouvir o outro e dar de si, de seguir o movimento do outro sem perder a intenção do nosso, de escuta activa no sentido que descobrir o outro pode ser uma oportunidade de reflexão, de descoberta, de crescimento. Este território fala, discute comigo e relembra-me, inúmeras vezes, a doçura de viver. Não encontro melhor forma de adjectivar o propósito deste projecto fotográfico do que um desejo contínuo e crescente em registar esta cumplicidade que é feita de uma linguagem não falada e que me interessa alcançar, porque é num mundo de sensações e emoções que um peixe se sente dentro de água.
Entendo a vida como este vai-e-vem que é feito de um dar e receber de volta, como um boomerang que não se desloca no acaso e talvez por isso os movimentos sincronizados e o fluir da dança sejam linguagens que ressoam e que para além de tranquilidade me conferem asas e me permitem mergulhar e saborear instantes que parecem assim ganhar a capacidade de perpetuar o tempo e os instantes que somos.
Mais sobre este projecto
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AutorSusana Pereira
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BioNão tive na minha história de vida qualquer familiaridade ou relação de parentesco que me envolvesse com a câmara fotográfica e também nunca tive na infância nenhum daqueles desejos descontrolados que “obrigasse” os meus pais a me oferecerem uma máquina, mas tinha sim, uma frustração em não conseguir comunicar o que o verbo não traduz mas se sente dentro, e uma ânsia crescente em deixar marca num mundo onde nos sabemos não eternos.
"At the top of the world!" e inebriada com todas as sensações que uma posição de destaque como esta confere, que é simultaneamente livre e solta de constrangimentos para abraçar um mundo onde não há lugar a temporalidade, memórias ou qualquer outro elemento supostamente condicionante de acção e ainda com o inerente privilégio de estar a ver a vida a desenrolar-se à minha frente! É nesta vibração que o meu corpo reage de cada vez que o olho se coloca por trás da câmara e os dedos percorrem os controlos da máquina, com o objectivo, a presunção e a vaidade de querer deixar o meu registo e a minha leitura de uma qualquer realidade, na memória, no olhar e na pele de um outro.
Porque há histórias que não podem ser contadas mas que podem estar bem documentadas num instante que já passou mas foi presente e que me envolvem numa sintonia interna, num sentimento de pertença.
Eu não respiro fotografia, mas é nela e com ela que me diluo. -
Experiências Primeira LuzAldeia da Luz (Ago.2015)
Lisboa (Out.2015)
Imagens muito cúmplices e fluídas. Excelente composição. Gostei muito também do texto que acompanha as imagens. Parabéns!
Espectacular. Muito bom mesmo
Deixei-me fluir.
Muitos Parabéns e Muitos Anos Inspirados e Inspiradores
Grata.