Fuji X-Pro1: Amor à Primeira Vista
Atenção: Esta não é uma daquelas críticas cheias de especificações técnicas, comparações entre ISOs e outras que tais. Para isso, é melhor procurar noutro lado. O que aqui vos apresento é uma breve “Love Story”, resultante de um dia a deambular pelas ruas de Londres com uma câmara feita para quem gosta de fotografar.
Quando o José Santos, participante de uma mão cheia de workshops Primeira Luz, convertido em grande amigo, me lançou o desafio de o acompanhar a Londres para um dia de fotografia, eu sabia que ele estava a falar de fotografia de rua. A mesma fotografia de rua que preencheu os primeiros anos da minha vida como fotógrafo, como apaixonado pelas pessoas, pela cidade e pela perfeita simbiose que nasce da relação entre ambas.
A minha viagem pelo mundo desta maravilhosa expressão artística levou-me para outras paragens, onde o mundo natural impera e onde a presença humana é muitas vezes evitada em função de um objetivo diferente. Ainda assim, com a expansão da Primeira Luz para outros estilos que não apenas a paisagem natural, em 2011 liderei o primeiro workshop de fotografia de rua e o “bichinho” da cidade voltou de novo a pairar no meu horizonte. Amanhã, volto às ruas de Lisboa para o workshop de rua número 12. E uma vez mais, vou voltar a falar da máquina ideal para a fotografia de rua, máquina que infelizmente nunca se perdeu comigo pelas ruas. Até esta viagem a Londres…
Como eterno utilizador de dSLRs Canon – que uso para fotografar natureza e desporto – sempre as levei comigo para a rua, embora reconhecendo que os modelos que possuo são tudo menos discretos, especialmente quando acompanhadas com lentes de anel vermelho de tamanho considerável. Não me interpretem mal: são instrumentos de precisão de uma qualidade invejável, adequadas a tudo o que faço. Menos a passar despercebido na rua… quando esse é o objectivo.
Quando surgiu a oportunidade de testar uma das máquinas eleitas como perfeita para a fotografia de cidade, não pestanejei. Sabia que teria de a levar comigo para terras de sua majestade. E foi assim que a pequena Fujifilm X-Pro1 viajou comigo até Londres.
A primeira vez que se pega na X-Pro1 pensa-se “eu quero uma!”. Com o seu corpo negro de inspiração retro, a Fuji criou um verdadeiro objeto de desejo que combina na perfeição com qualquer pessoa com o mínimo de bom gosto. Até podia nem fotografar, ficaria sempre bem ao pescoço de qualquer aspirante a fotógrafo com estilo.
Mas quando se liga a câmara com o intuito de fazer fotografia, a vontade de a mostrar transforma-se, rapidamente, na vontade de a usar. Isto porque se nota que a Fuji construiu uma câmara para quem gosta e sabe fotografar. Com selectores manuais e independentes que permitem controlar por completo as três variáveis da exposição (abertura, velocidade e ISO), a câmara usa-se com prazer e as mudanças de ritmo tornam-se intuitivas. Fui capaz de usar a câmara durante todo o dia sem nunca me aventurar em menus e opções desnecessárias: tudo o que precisava de ajustar tinha um botão dedicado para o fazer. Desde alterar o ponto de foco, rever uma imagem acabada de tirar, mudar entre o visor óptico e o electrónico, compensar a exposição, alterar ISO, velocidade, abertura, tudo isto é acedido rapidamente com o toque de um botão específico para o efeito.
Em termos de manuseamento, a máquina assentou bem na minha mão e foi um prazer usá-la durante horas sem nunca achar que a pega estava fora do sítio. As lentes usadas – fixas de 18 e 35mm –, pequenas, mas de construção sólida, equilibram bem o conjunto e permitem uma portabilidade fantástica. Mochila? Não há mochilas na fotografia de rua…
Mas nem tudo foram rosas… o sistema de autofoco da X-Pro1 deixou-me à beira de um ataque de nervos nas primeiras horas. Mesmo com o mais recente firmware instalado, a máquina, usando o visor óptico, era lenta a focar. “Estás mal habituado”, partilhava o Zé em tom de brincadeira, referindo-se ao sistema de AF da Canon.
A forma como eu faço fotografia de rua, mostrando-me às pessoas que sabem que eu estou ali a fotografá-las – sem lhes pedir autorização – precisa de um sistema de focagem que funcione e que seja rápido. Tal não acontecia com este modelo da Fuji (que já tem alguns anos…) e isso fez-me perder alguns momentos.
Ainda experimentei, brevemente, o sistema de foco manual, pré-focando a uma certa distância. Mas isso implicava alterar a minha maneira de fotografar e, embora tenha funcionado razoavelmente bem, não me deixava confortável.
Outro aspecto que não gostei foi da falta de precisão do visor óptico em relação à composição. Como estou habituado a fazer composições ao milímetro, incluindo na rua, falhei algumas fotos devido ao efeito parallax, que também me fez falhar o foco quando em manual. Decididamente, o visor óptico não é para mim. Mea culpa, certamente, mas é o que sinto.
Foi então que a duas horas do fim do dia decidi começar a usar o visor electrónico. A bateria ainda estava com boa carga e decidi ver o que aquela opção conseguia fazer pela minha fotografia. Fiquei surpreendido pela positiva. Além de gostar de o usar, podia ver exatamente como o fotografia iria ficar em termos de composição – incluindo a profundidade de campo – e, melhor que tudo, o sistema de autofoco parecia agora muito mais rápido. Mas que diferença para melhor. Hoje comprovei isso mesmo, ao experimentar por breves instantes a X-T1 de uma amiga, com o visor electrónico ligado e que se mostrou a anos luz desta X-PRO1 em termos de velocidade de focagem.
No fim do dia, voltei para o hotel com a sensação que tinha descoberto algo positivo com o visor electrónico, mas que os resultados não tinham sido lá muito animadores em termos de fotografia. No entanto, quando revi as imagens no computador fiquei siderado: a qualidade da pequena lente XF 35mm f1.4R, em conjunção com o sensor X-Trans da Fuji, deixou-me completamente KO! Inclusive a ISOs elevados, a câmara porta-se tão bem como as dSLRs de referência. Tal como Tomé, é preciso ver para crer. Olhar para um JPG ou RAW a 100% no computador é uma experiência fantástica. A resolução de que foi capaz, aliada ao baixo nível de ruído, deixou-me rendido.
Finalmente, há a referir ainda os fascinantes filtros simuladores de filme da Fuji que podem ser aplicados na edição do RAW (na própria câmara ou no Lightroom) ou escolhidos no momento da captura em JPG. Embora tenha usado o Provia e o Preto e Branco nesta sessão, como apaixonado pela paisagem foi uma bonita memória ver a opção Velvia disponível no momento da escolha do filme a emular.
Não querendo alongar mais um texto que já vai longo, segue um pequeno resumo daquilo que gostei mais:
- O design atrativo e robusto e o manuseamento impecável: a câmara combina comigo e combina com qualidade de construção!
- A possibilidade de ajustar os controlos mais usados no dia-a-dia diretamente sem recorrer a opções de menu;
- Os resultados obtidos pela combinação com a lente XF 35mm f/1.4R: resolução e recorte fabulosas;
- A portabilidade: andou comigo para todo o lado, de Londres a Lisboa, só saiu da minha sacola quando tive de a devolver;
- A capacidade de produzir bons JPGs, ideal para quem não gosta de passar horas a editar no computador.
E do que não gostei assim tanto:
- O sistema de autofoco lento quando usado o visor óptico (embora quando o foco acerta, a precisão é incrível);
- O visor óptico e a falta de precisão a compor e a focar;
- Fraca implementação do foco manual, fazendo falta mais ajudas do que apenas o focus-peaking.
Como disse atrás, amanhã vou voltar às ruas de Lisboa para mais um workshop Primeira Luz. A Canon EOS 7D mkII vai fazer-me companhia, mas o pensamento vai estar por certo na pequena Fuji que teve de voltar para as mãos do seu dono. É caso para dizer: foi amor à primeira vista.
Clique em cada uma das imagens para a ver em tamanho maior.
Texto e Fotografias de Luís Afonso
Obrigada Luís por este artigo fotográfico. É sempre bom ter esses conhecimentos. Gostei muito das fotos. Que bom poder ir a Londres só para fotografar! Um abraço. Maria
Grata pela tua partilha
Como sabes estou super fã das câmaras da Fujifilm.
Experimenta a Xt1. Vou gostar de saber a tua opinião.
Um abraço
Hummmm! Como sabes ando um bocado perdido!!!!!
Com este teu artigo ainda fiquei mais. 🙂
Tenho lido/visto bastantes referência a uma grande diferença na profundidade de campo entre o formato Full Frame e o 4/3.
Também já vi referências de que o encaixe das lentes para o formato micro 4/3 é comum a todas as marcas de lentes e corpos? É verdade?
A Fuji apresenta no caso da X Pro um sensor APC-s identido á linha DX da Nikon que uso. Consideras que essa linha da Fuji será superior á mesma linha da Canon ou Nikon?
Abraço. Grandes fotos.
Fazes aqui muitas perguntas. Vou responder-te a tudo por mail e continuamos a conversa a partir daí… 🙂
Como diz o Luis “A primeira vez que se pega na X-Pro1 pensa-se “eu quero uma!”. Com o seu corpo negro de inspiração retro, a Fuji criou um verdadeiro objeto de desejo que combina na perfeição com qualquer pessoa com o mínimo de bom gosto”.
Comprei a semana passada uma Fujifilm X-Pro1 e posso dizer que é cinco estrelas, preocupava-me o facto do autofoco ser bastante lento e não ser preciso, mas depois de algum tempo adaptar-me com a camera as coisas mudam de figura! para não falar das excelentes fotografias em preto e branco com ISO bastante alto.
Excelente fotografias Luis e obrigado por este feedback da X-pro1.
Estava indeciso entre uma mirrorless e uma Nikon D5500, mas parece que está decidido. Obrigado pela ajuda Luis. Acho que vou optar pela X-E2 que presumo ser muito parecida em termos de qualidade com esta que testou.
Olá Francisco, muito obrigado pelo seu feedback. Fico contente por ter ajudado, acho que está a fazer uma excelente decisão. Eu não experimentem a X-E2, mas pelas especificações para ser até talvez um pouco melhor que a X-Pro1 em termos de velocidade no AF, um visor electrónico melhorado e uma nova versão do sensor. Boas fotos!
gostei do artigo e das fotos, como já vem sendo habitual. 🙂
Abraço Luís
Excelente artigo Luís. Obrigado pela partilha.